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Origens da Cruz Vermelha

Origens da Cruz Vermelha

Henry Dunant (1828-1910)

Em junho de 1859, uma das piores batalhas da época desdobrou-se na região de Solferino, no norte da Itália, com 40.000 mortos e feridos como resultado. O suíço Henry Dunant, que estava então a passar pelas proximidades da batalha, decidiu ficar e prestar assistência aos soldados feridos e moribundos com a ajuda das mulheres e meninas da região, ainda que lhes faltasse conhecimentos médicos.

Até meados do século XIX, não existia um corpo organizado e bem estabelecido de assistência médica para os feridos em confrontos. Tampouco havia instituições seguras e protegidas onde as pessoas feridas pudessem ser acomodadas.


Após essa experiência, Dunant teve a ideia revolucionária de treinar voluntários em tempos de paz para ajudar os mais vulneráveis em tempos de crise com uma assistência imparcial e neutra. Quatro anos mais tarde, fundou-se então o Comitê Internacional da Cruz Vermelha. 
Hoje, milhões de pessoas em cerca de 190 países fazem parte deste movimento global criado pelo visionário Henry Dunant. Contamos abaixo em mais detalhes como essa história desdobrou-se.

1859: Batalha de Solferino

Em Junho de 1859, o suíço Henry Dunant viajava para a Itália para encontrar-se com o imperador francês, Napoleão III, com a intenção de discutir as dificuldades em fazer negócios na Algéria, então ocupada pela França.

Assim que chegou em Solferino na noite de 24 de Junho, Dunant testemunhou a batalha de Solferino – um confronto da Segunda Guerra de Independência Italiana. Em um único dia, 40 mil soldados morreram ou foram deixados feridos no campo de batalha. Dunant ficou chocado pelo final da batalha, com o sofrimento dos soldados feridos, e a falta de atendimento médico aos mesmos. Ele decidiu então abandonar o plano original de sua viagem e, por vários dias, dedicou-se a ajudar, junto a mulheres e meninas da vizinhança, a tratar dos feridos. Dunant organizou a assistência para que a mesma fosse concedida sem discriminação.

“A Batalha de Solferino" (1859) do pintor Carlo Bossoli


Quando Dunant voltou à Genebra, sua cidade natal, decidiu escrever um livro que chamou de “A Memória de Solferino”. Ele o publicou com fundos próprios em 1862, e enviou cópias do livro a políticos e militares importantes em toda a Europa. Neste livro, além de retratar vivamente suas experiências em Solferino, Dunant também sugeriu a formação, em cada país do mundo, de um sistema de assistência nacional voluntário que colabore no cuidado médico de feridos em tempos de guerra, e a adoção de tratados internacionais que garantam a proteção das equipes médicas neutras, e hospitais de campo para os soldados feridos em batalha.

1863-1864: Comitê Internacional para Ajuda aos Militares Feridos e a Primeira Convenção de Genebra

Em Fevereiro de 1863, quatro cidadãos naturais de Genebra juntaram-se a Dunant para levar a cabo o projecto de constituição do Comitê Internacional para Ajuda aos Militares Feridos em Tempo de Guerra.

“A assinatura de Primeira Convenção de Genebra", pintura de Charles Edouard Armand-Dumaresq


Países reuniram-se em Genebra, em outubro de 1863, para adoptar as 10 Resoluções que formaram a Carta da Cruz Vermelha. Estavam, pois, definidas as funções e os métodos de trabalho para socorro a feridos. Foi também utilizado pela primeira vez uma Cruz Vermelha em fundo branco como emblema distintivo para as sociedades tratarem os feridos.

A assinatura da I Convenção de Genebra em agosto de 1864 contribuiu para a melhoria das condições dos feridos das forças armadas em campanha. As instalações médicas militares, os veículos e o pessoal sanitário deveriam, a partir de então, ser considerados neutros e, deste modo, protegidos.

Em 1906, a segunda Convenção de Genebra foi escrita. Essa estendeu as obrigações da primeira Convenção às forças navais.

1914-1918: Primeira Guerra Mundial

Durante a Primeira Guerra Mundial, as sociedades nacionais da Cruz Vermelha tiveram um papel muito importante. Elas apoiaram os serviços médicos dos exércitos, trouxeram alívio aos prisioneiros de guerra pedindo a melhoria das condições de detenção, e às vezes organizaram seu repatriamento e ajudaram as populações civis. Foram enviadas, no total, cerca de 2 milhões de encomendas para prisioneiros. Cerca de 120 mil pessoas solicitaram ao Comitê informações sobre o pessoal militar capturado e desaparecido. A guerra revelou a necessidade urgente de proteger os civis internados.

Apesar do ideal universal de um Movimento da Cruz Vermelha independente, neutro e imparcial, as sociedades nacionais foram subordinadas aos seus respectivos governos e integradas ao esforço de guerra, usadas como ferramenta para a mobilização de mentes e a promoção de seus países no exterior. As mulheres foram um componente importante dessas sociedades, mas, apesar de seu compromisso, não estiveram em posições de liderança.

A terceira Convenção de Genebra foi escrita 11 anos após o fim da Primeira Guerra mundial, em 1929, e teve como objectivo definir o tratamento de prisioneiros de guerra. O termo prisioneiro de guerra foi então definido como “todo combatente capturado, podendo este ser um soldado de um exército, um membro de uma milícia ou até mesmo um civil, como os resistentes". Foi esta Convenção que passou a permitir ao Comitê internacional da Cruz Vermelha (CICR) visitar todos os campos de prisioneiros de guerra sem restrição, e dialogar com os mesmos, sem a presença de testemunhas.


1939-1945: Segunda Guerra Mundial

Parcela da Cruz Vermelha Britânica da Segunda Guerra Mundial

A Cruz Vermelha desempenhou um papel muito importante na Segunda Guerra Mundial com a ajuda que deram aos prisioneiros de guerra. As diferentes Sociedades Nacionais estabeleceram hospitais auxiliares onde tinham permissão e os equiparam com pessoal da Cruz Vermelha. Eles eram neutros e tratavam qualquer um envolvido no conflito onde quer que fosse. A Cruz Vermelha também estabeleceu casas convalescentes para cuidar dos doentes, se precisassem de cuidados prolongados.

Esta guerra apresentou ao CICV uma série de desafios. Primeiro, a organização teve que realizar trabalho humanitário simultaneamente nos cinco continentes, o que exigiu enormes recursos humanos e econômicos. Mais de cinquenta delegações do CICV estiveram operacionais durante o conflito. Durante este período, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha também alargou as disposições das Convenções de Genebra para os civis de nacionalidade inimiga que estivessem no território de uma das partes do conflito e fossem presos somente por causa da sua nacionalidade.

A quarta Convenção de Genebra (1949) e os Protocolos Adicionais (1977 e 2005)

No ano de 1949, assinou-se a quarta Convenção de Genebra que não apenas revisou as três Convenções anteriores, como também acrescentou uma quarta relativa à proteção dos civis em período de guerra. Actualmente, quando falamos da Convenção de Genebra, referimo-nos ao resultado desta Convenção. De acordo com a Convenção de 1949, os civis são protegidos de toda e qualquer hostilidade: eles não podem ser sequestrados, para servir, por exemplo, de “escudos humanos". Além disso, toda e qualquer medida de retorsão visando os civis ou seus bens é estritamente proibida, e as punições coletivas são estritamente proibidas.

Mais tarde, em 1977, dois Protocolos Adicionais emendaram as Convenção de Genebra de 1949. Tendo em conta as mudanças nas técnicas de guerra, o Protocolo Adicional 1 foi criado para tratar da proteção de civis contra os efeitos das hostilidades em conflitos armados especificamente 
internacionais. Com o Protocolo Adicional 2, visou-se proporcionar tratamento e proteção à população civil presente em conflitos armados não-internacionais (internos).

Em suma, essas Convenções e Protocolos Adicionais protegem actualmente todas as pessoas que não estão a participar de conflitos armados (isto é, civis, pessoal da saúde, profissionais humanitários), seja o conflito interno ou internacional, assim como aqueles que deixaram de combater (militares feridos, enfermos e náufragos, prisioneiros de guerra). Estes documentos também compõe o núcleo do Direito Internacional Humanitário, o ramo do Direito Internacional que regula a condução dos conflitos armados, buscando limitar seus efeitos.

Leia mais sobre as Convenções de Genebra de 1949 e seus Protocolos adicionais na página Web da CICV.

No desenho animado abaixo, produzido pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), você também pode aprender mais, e de maneira resumida, sobre as origens da Cruz Vermelha.